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A Igreja da Idade Média, já corrompida na doutrina e nos costumes, apesar do seu poderio, também tinha seus críticos. Uma das questões com as quais o primeiro arcebispo de Glasgow teve que lidar foi um movimento de Ayrshire que desafiava o ensino da Igreja de então. Conhecidos como 'os lolardos de Kyle', esses críticos não apenas rejeitavam as práticas tradicionais já estabelecidas; eles contra-argumentavam a favor dos padres serem autorizados a se casar (o que é diferente de fechar os olhos ao concubinato).
Além disso, também defendiam o direito das pessoas de ler a Bíblia e adorar em sua própria língua. 'Lolardia' era um termo pejorativo (significando 'murmúrio') usado para descrever o ensino 'radical' do teólogo inglês do século XIV, John Wycliffe. Na Escócia, isso veio a produzir mártires como James Resby, queimado na fogueira em Perth em 1407, e Paul Crawer, que sofreu o mesmo destino em St Andrews em 1433.
Wycliffe (1330[?]-1384), conhecido como "a estrela d'alva da reforma" traduziu a Bíblia para o inglês. Antes mesmo de Lutero pregar a doutrina da salvação pela graça por meio da fé, Wycliffe a ensinava.
Wishart foi enforcado e queimado em 1545. Seu algoz disse: "Senhor, perdoe-me, pois não sou culpado de sua morte." Depois de o beijar, Wishart falou: "Eis aqui o sinal de que te perdoo de coração. Faça sua tarefa."
De formidável força reformadora, deixou sua marca no protestantismo e no povo da Escócia. Poucos pregadores influenciaram tanto o curso da história de uma nação quanto John Knox (1514-1572).
Em 1517, as coisas chegaram ao auge quando Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja de Todos os Santos em sua cidade natal, Wittenberg. O foco particular de Lutero era a venda de indulgências que pretendiam reduzir o tempo dos já falecidos que estavam no purgatório, com os lucros que financiavam a reconstrução da Basílica de São Pedro em Roma. Graças à recém-inventada máquina de impressão, as ideias de Lutero se espalharam rapidamente por toda parte. Na Escócia, elas foram abraçadas por pessoas como Patrick Hamilton, que estudou na Alemanha e foi martirizado em St Andrews em 1528.
Outros assumiram a causa, incluindo George Wishart e seu guarda-costa, John Knox. Wishart também sofreu o martírio, mas Knox, fortemente influenciado por João Calvino pelo tempo que passou em Genebra, sobreviveu para atingir seu objetivo quando, em agosto de 1560, o Parlamento escocês rejeitou a autoridade do Papa e proibiu a missa. No ano seguinte, as coisas foram complicadas (para dizer o mínimo) pelo retorno da França de Mary Queen of Scots (Maria Stuart ou Maria I, Rainha da Escócia) para assumir seu trono e aderir pessoalmente ao catolicismo romano no qual ela havia sido criada.
O objetivo de Knox e seus seguidores era a reforma, não a criação de uma nova Igreja. Na verdade, houve aqueles dentro da liderança da Igreja pré-Reformada, que continuaram a servir, defendendo mudanças internas e dando liderança à Igreja pós-Reformada. Os padres tornaram-se ministros, os bispos serviram como superintendentes (ministros com uma missão regional) e novas estruturas foram postas em prática, embora só em 1592 um sistema presbiteriano completo foi adotado pela Igreja e Parlamento escoceses. Este compreendia uma série ascendente de tribunais compostos por ministros e anciãos, nomeadamente, Sessão Kirk, Presbitério, Sínodo e Assembleia Geral.
Após o assassinato de seu marido, Lord Darnley, e seu casamento três meses depois com o conde de Bothwell (suspeito de envolvimento na trama do assassinato), Mary foi pressionada a abdicar em favor de seu filho pequeno, James. Seus apoiadores se uniram em sua causa, mas, após a derrota na Batalha de Langside em 1568, ela fugiu para a Inglaterra, onde foi presa por Elizabeth e finalmente executada em 1587. Em 1603, com a morte de Elizabeth, as Coroas da Escócia e da Inglaterra foram unidas sob James. Seu objetivo era a uniformidade da Igreja, nas linhas episcopais, ao norte e ao sul da fronteira. Consequentemente, durante seu reinado e o de seus sucessores Carlos I e II, a Igreja escocesa alternou entre o presbiterianismo e o episcopado. Os reis de Stewart eram crentes firmes em seu direito divino de governar tanto a Igreja quanto o Estado, mas eles tinham que contar com os Covenanters que, em 1638, assinaram o firme Pacto Nacional Presbiteriano. Só em 1690, após a 'Revolução Gloriosa', a Igreja Escocesa reformada foi finalmente estabelecida como Presbiteriana, embora, mais tarde, mais problemas viessem a surgir.
Traduzido com pequenas adaptações de: História | A Igreja da Escócia (churchofscotland.org.uk)
"A justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva com a qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, segundo está escrito: O justo viverá por fé"
João Calvino (1509-1564) foi o maior teólogo e expositor bíblico da Reforma. Através do seu ensino, ele fez mais do que qualquer um para moldar a doutrina e o culto das igrejas.
A Free Church of Scotland é uma Igreja Presbiteriana cujo culto e doutrina se mantêm fiéis à posição adotada pela Igreja da Escócia desde a sua formação no período da Reforma Protestante. Sua divergência do corpo conhecido como Igreja da Escócia data da Ruptura de 1843, quando, sob a liderança do Dr. Thomas Chalmers, o Partido Evangélico na Igreja da Escócia, como por Lei Estabelecida, retirou-se do Establishment para formar a Igreja Livre Escócia.
A causa da ruptura foi a insistência dos tribunais civis em ordenar homens ao ministério independentemente da aceitação dos membros da igreja. O Partido Evangélico considerou isso como uma interferência intolerável nas liberdades espirituais da igreja e assim muitos se retiraram da Igreja Estabelecida para formar a Igreja Livre.
A ruptura não tinha como propósito causar uma divisão na Igreja, mas apenas romper o seu vínculo com o Estado e a consequente subserviência à outra autoridade que não a vontade de Deus conforme revelada nas Escrituras. A sua adesão à Confissão de Fé e lealdade aos mesmos princípios históricos já estabelecidos permaneceriam os mesmos.
A Igreja Estabelecida permaneceu. Entretanto, a Igreja Livre foi organizada por não aceitar a interferência do governo civil quanto às liberdades espirituais.
A Igreja Estabelecida e a Igreja Livre não eram as únicas Igrejas Presbiterianas na Escócia no século XIX, visto que, já no século XVIII, vários agrupamentos presbiterianos haviam se formado com pontos de vista confessionais distintos. No final do século XIX surgiu um movimento com o propósito de unir essas várias igrejas presbiterianas, mas, dada a natureza das diferentes formulações confessionais, foi proposto um acordo para que a unidade pretendida se concretizasse.
Deixando de lado as diferentes opiniões, foi firmado um compromisso com base unicamente na adoção e subscrição de um documento suficientemente vago e elástico para que a união das várias igrejas se firmasse.
Quando a Igreja Livre foi confrontada com esse dilema, uma minoria considerou que as doutrinas que estavam sendo tratadas como questões em aberto eram tão vitais para a fé que o dever da unidade cristã não poderia se sobrepor ao dever maior de fidelidade à verdade. A consequência foi que, quando a grande maioria da Igreja Livre entrou na União de 1900 para formar a Igreja Livre Unida da Escócia (e, em 1929, para se reunir com a Igreja da Escócia), uma pequena minoria preferiu continuar na Igreja Livre da Escócia. Os adeptos desse partido “constitucionalista”, como era chamado, encontravam-se principalmente, embora não exclusivamente, nas Terras Altas e Ilhas da Escócia.
Hoje a Igreja Livre da Escócia, embora muito reduzida em tamanho, mantém o sistema de doutrina e a forma de culto adotada pela Igreja da Escócia na Reforma em continuidade com a Igreja de 1843. O canto dos salmos métricos escoceses desacompanhados de música instrumental é, talvez, a característica mais distintiva de sua liturgia, mas a principal ênfase de seu culto ainda se encontra na centralidade do púlpito e na proclamação de uma salvação livre e soberana.
A Igreja Livre continua até os dias atuais. Na Comissão da Assembleia, em janeiro de 2000, ocorreu uma divisão porque a maioria estava determinada a agir de uma maneira que era contra a constituição ou “livro de regras” da igreja, que todos os oficiais devem subscrever. Vários ministros e presbíteros assinaram uma “Declaração de Reconstituição” na qual se comprometeram a continuar a Igreja Livre de maneira constitucional. Eles são a Igreja Livre da Escócia (Continuada). Usamos este título para distinguir, apenas para fins de administração, da Igreja Livre da Escócia reconstituída de qualquer corpo residual que reivindique esse título. Continuamos a ser a Igreja Livre da Escócia.
Traduzido de freechurchcontinuing.org
O português João Ferreira Annes d’Almeida partiu para a Holanda e, aos 16 anos, foi para Batávia, onde traduziu para português o Novo Testamento e parte do Antigo (1681).
O presbiterianismo em Portugal teve seu início na Madeira, entre os anos de 1838 e 1846, quando o médico escocês Robert Reid Kalley foi viver para o Funchal.
O presbiterianismo em Portugal teve seu início na Madeira, entre os anos de 1838 e 1846, quando o médico escocês Robert Reid Kalley foi viver para o Funchal. Lá chegando, começou a realizar trabalho social e evangelizar. Em 1845 foi fundada na capital do arquipélago a primeira comunidade presbiteriana do país. Em 1866 o também pastor escocês Robert Stewart, trouxe a mesma mensagem de salvação aos portugueses do Continente. Em 1870 é organizada em Lisboa, pelo Pastor António de Mattos, a primeira comunidade não católica de Portugal. Mattos, convertido na Madeira pelo ministério do Dr. Kelly, estudou teologia na Escócia, onde fora ordenado. Ao chegar em Lisboa, Mattos já encontrara uma comunidade de portugueses protestantes ligados à igreja da Escócia. Somente em 1944 as igrejas presbiterianas da Madeira, dos Açores e do Continente se uniram formando assim a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal.
Como resultado da experiência ecuménica iniciada em Portugal em 1956 e da criação do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC) em 1971, a IEPP aderiu ao ecumenismo juntamente com a Igreja Evangélica Metodista Portuguesa, a Igreja Lusitana Católica Apostólica e, mais recentemente, a Igreja Ortodoxa.
A Igreja Presbiteriana de Braga — sendo a primeira igreja presbiteriana e reformada na cidade e Distrito de Braga, região do Minho — é o resultado do trabalho iniciado pela família Almeida em sua residência no ano de 2016.
Após cinco anos vivendo em Braga e tendo constatado a ausência de uma igreja reformada e confessional no Distrito, a família Almeida deu início ao trabalho de implantação de uma igreja de confissão presbiteriana no dia 15 de janeiro de 2017, ainda em sua residência, na freguesia de Lamaçães. O objetivo era estabelecer uma igreja local, com futura vinculação a uma denominação presbiteriana histórica e confessional.
O Sr. Almeida iniciou as pregações, expondo a carta de Paulo aos Efésios, alternando com o pastor Alexandre Martins, que pregava no livro do profeta Malaquias.
Inicialmente participavam das reuniões regularmente as famílias Almeida e Martins e, ocasionalmente, visitantes. Após um ano e três meses, as duas famílias tornaram-se membros da Igreja Cristã Presbiteriana Manancial de Paços de Ferreira (ICPMPF), e o ponto de pregação em Braga passou a estar oficialmente filiado à Igreja Cristã Presbiteriana de Portugal (ICPP).
A partir do dia 11 de março de 2018, os cultos foram realizados na sala 28 da Rua de Caires, 328, em Maximinos, Braga. Naquele dia, a Palavra de Deus foi pregada em Efésios 2:1-2 pelo irmão Heraldo Almeida, que continuou designado pelo Conselho da ICPMPF como evangelista e pregador responsável pela congregação.
No ano em que a Congregação de Braga completaria quatro anos de existência, e mesmo tendo histórico de elogios do Conselho da ICPMPF pelo trabalho fiel e próspero realizado, um fato inesperado e inusitado ocorreu.
No dia 6 de janeiro de 2022, a Assembleia Geral da ICPP decidiu, de forma sumária e arbitrária, desvincular a Igreja Cristã Presbiteriana de Braga (ICPB) da denominação. A comunicação oficial foi feita por e-mail, no dia 10 de janeiro, através do Conselho da ICPMPF.
A decisão ocorreu após a congregação de Braga ouvir, por meio de representantes fiéis, o missionário indicado para assumir o pastorado local. Ao perceberem inclinações pentecostais, desconhecimento do princípio regulador do culto e abertura à pregação por mulheres, e preocupados com o desvio dos princípios bíblicos e confessionais, os membros manifestaram preocupação com o desalinhamento à doutrina reformada.
Por orientação do então presidente da Assembleia Geral, a congregação encaminhou um documento respeitoso ao presbitério, solicitando a reversão da posse do missionário. A Assembleia, ao analisar o pedido, decidiu pela exclusão dos membros da ICPB com base no artigo 9, alínea 5 do Regimento Interno, sem oportunizar direito de defesa ou resposta ao documento enviado.
Mesmo após novo pedido de esclarecimentos, não houve resposta formal por parte do Conselho ou Presbitério. Estranhamente, a ICPP autorizou o missionário a iniciar um novo trabalho presbiteriano em Braga, na mesma freguesia, sob o nome de Primeira Igreja Cristã Presbiteriana de Braga.
Diante dos acontecimentos, no dia 17 de janeiro de 2022, a Igreja Presbiteriana de Braga procurou apoio da Free Church of Scotland Continuing (FCSC), por meio do Rev. William Macleod. Seguindo orientação, o contato foi feito com o Rev. Jorge Ruiz, pastor da igreja em Rubi, Barcelona, Espanha, que levou os fatos ao conhecimento do presbitério de Navarra e Aragão.
Em 27 de junho de 2022, a Igreja Presbiteriana de Braga foi oficialmente recebida por esse presbitério, passando a integrar a FCSC e adotando seu nome atual.
Pela graça de Deus, a Igreja Presbiteriana de Braga segue firme nos princípios bíblicos e reformados resgatados pela Reforma do século XVI. Como parte da Free Church of Scotland Continuing, permanece fiel ao ensino confessional, à pureza do culto segundo o princípio regulador, e à prática piedosa da fé cristã, conforme expressos nos padrões de Westminster (Capítulo XXI — Do Culto Religioso e do Dia do Senhor, § V.) e em seu Diretório para o Culto Público.
"Batalhando diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 1.3).
A imagem do cabeçalho retrata a Primeira Assembleia Geral da Igreja Livre da Escócia; assinando o Ato de Separação e Escritura de Demissão — 18 de maio de 1843 (David Octavius Hill RSA). Image © Free Church of Scotland, Photograph by George T. Thompson LRPS